A ideia de imprinting ajuda a explicar muito do que acontece sobre como sentimos, pensamos, agimos e, consequentemente, sobre como falamos e escrevemos. Essa expressão foi primeiramente utilizada por Konrad Lorenz, o pai da etologia, para designar a marca indelével deixada nos animais recém-nascidos por suas primeiras experiências. Morin a usa em relação aos humanos e sustenta que entre nós o imprinting é inicialmente imposto pela família, depois pela cultura da sociedade e continua na vida adulta: “[O imprinting] inscreve-se no cérebro desde a primeira infância, pela estabilização seletiva de sinapses, inscrições primeiras que marcarão irreversivelmente a mente individual em seu modo de conhecer e agir.”.
O imprinting inicial é reforçado pela aprendizagem e dessa maneira elimina todos os demais métodos, conhecimentos e modos de pensar e agir. Portanto, claro está que em nossa cultura ele é basicamente determinado pela lógica binária.
Se não modificarmos nosso modo de empregar a linguagem (o que, por seu turno, exige mudança nos modos de sentir e pensar), nossas narrativas sobre como existimos no mundo continuarão sempre as mesmas. “O mundo continuará desumano, se não for continuamente comentado pelos seres humanos”, escreveu Hannah Arendt.
Seres humanos com estrutura mental modificada podem construir um mundo diferente. O mundo que construímos com a linguagem balizada pelo imprinting do modelo mental binário tende a nos tornar cada dia menos humanos.