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Em 1982, Stephen Wolfram apontou uma nova direção na pesquisa humana: o desenvolvimento de uma teoria geral da complexidade na natureza (Wolfram, 1982; Wolfram, 2002). Quando projetada no espaço conceitual da ecologia, essa direção revela uma nova estrutura unificadora para os estudos ecológicos: a estrutura das ecologias dinâmicas emergentes. Esta estrutura inclui ecologia ambiental, ecologia humana, ecologia social, ecologia profunda, ecologia da mente, ecologia da aprendizagem e está amplamente aberta para abraçar novas descobertas ecológicas.
O termo “ecologia” tem suas raízes na palavra grega oikos que significa “casa”. Da mesma forma que a casa fornece um abrigo para as pessoas viverem, o universo fornece um “abrigo” para a infinidade de formas inanimadas e animadas existirem e evoluírem juntas. A casa – oikos – é um local onde os seus habitantes se relacionam e interagem de forma dinâmica; a ecologia estuda diferentes aspectos dessas interrelações e interações. Nesse sentido, a ecologia é similar à ciência da complexidade, já que esta última também se dedica ao estudo de interrelações e interações dinâmicas.
Enquanto a ecologia aborda a surpreendente variedade das manifestações externas das interações dinâmicas na natureza e na sociedade, a ciência da complexidade tenta revelar os segredos internos: O que as impulsiona? O que sustenta sua emergência? De onde vem a sua habilidade auto-organizadora e como ela se manifesta? Em que tipos de padrões as entidades que interagem se auto-organizam? Como esses padrões influenciam uns aos outros? Quais são os fatores que reforçam ou impedem a interação dinâmica dos padrões auto-organizadores? O que os faz evoluírem, se transformarem ou se dissolverem?
A estrutura unificada das ecologias dinâmicas emergentes serve como uma ponte entre os dois ramos complexos da pesquisa humana: ecologia e complexidade, o estudo ecológico das dinâmicas existenciais e o estudo de seu poder auto-organizador. A estrutura unificada não leva apenas ao enriquecimento intelectual mútuo da ecologia e da complexidade, ela dá origem a novas áreas interessantes de pesquisa.
Neste artigo, enfatizamos a emergência da Ecologia da Saúde – uma nova pesquisa complexa (no sentido de “tecido junto”, da Teoria da Complexidade) da saúde humana e ambiental – no quadro geral das ecologias dinâmicas emergentes, na qual
• A Ecologia Ambiental lida com as interações dinâmicas de todas as formas existenciais da natureza (infelizmente, o número dessas formas diminui devido à ignorância ecológica de quem detém o poder na sociedade atual);
• A Ecologia Humana se concentra nas inter-relações dos humanos e seus ambientes naturais e artificiais (feitos por humanos);
• A Ecologia Social considera a sociedade humana como portadora de infinitas relações dinâmicas entre indivíduos, grupos, organizações, nações, estados, culturas, máquinas, e outras, em sua inseparável interconexão com a natureza;
• A Ecologia Profunda busca o desenvolvimento de estruturas conceituais complexas (tecidas juntas) para auxiliar as decisões pessoais e sociais emergentes da teia de interações humanas e que afetam o ambiente natural e a vida (Næss, A. e Rothenberg, D., 1990);
• A Ecologia da Mente estuda o processo do pensamento humano como uma emergência dinâmica contínua de pensamentos, sentimentos e fenômenos experienciais a partir das interações dinâmicas de um infinito de fatores internos e externos (Bateson e Bateson, 2000);
• A Ecologia da Aprendizagem aborda os fatores e condições que facilitam o processo de aprendizagem e busca como aumentar sua eficiência, no sentido de abrir novas possibilidades de realização do ímpeto auto-organizador das entidades vivas, em qualquer âmbito da teia de seus interrelacionamentos e interações (Hill et all, 2001; Dimitrov, 2002).
As descobertas teóricas e percepções práticas da ciência da complexidade são aplicáveis ao estudo de cada uma das ecologias apresentadas, bem como a todo o edifício das ecologias dinâmicas emergentes.
No foco da Ecologia da Saúde está a teia única da vida – e as interações de suporte à saúde em todos os âmbitos de sua emergência auto-organizadora – intrapessoal e interpessoal, entre os indivíduos e o ambiente, bem como entre os indivíduos e a sociedade; entre a sociedade e a natureza, bem como entre a sociedade e todo o Universo em evolução.